Minha infância querida

Infância querida

A minha infância teve um sabor de verão. Ainda posso me lembrar do cheiro do protetor solar, do calor e do cansaço ao fim do dia. E ao chegar em casa comia 2 ou 3 potes cheios de sorvete sem a mínima preocupação se iria engordar ou não. Uma felicidade tão singular e tão cheia de sentido por si só. É quando o verão anuncia seu calor no céu sinto essa alegria chegar. É como se eu pudesse voltar no tempo e sentisse  tudo de novo da mesma forma que antes…..E quando o verão chega até a mim posso sentir o cheiro da minha infância querida. As vezes ao voltar da faculdade em dias de sábado  e vejo o sol brilhar sinto uma vontade danada de correr para praia, talvez, com a esperança de poder sentir a-que-la alegria de antes. O verão sempre foi sinônimo de coisas que eu amava: diversão, praia e sol. E havia tão pouca coisa que preenchia minhas vontades e fazia todo sentindo. Acho que entendo Casimiro de Abreu quando ele dizia sentir saudade da tão amada infância querida. Talvez seja porque nesses tempos não há esperança de se querer nada além dos próximos 5 segundos.

Atualmente quando retorno aos lugares que eu ia quando criança me bate uma saudade apertada no peito desses momentos tão singulares que não voltam mais. Quando criança a vida parecia um presente que eu havia acabado de ganhar. E cada dia era o mesmo que dizer que haveria mais dia de festa e alegria. Porque tão pouca coisa me preocupava além do que eu iria fazer e quem eu iria encontrar.

As vezes sinto falta de poder olhar a vida e senti-la assim tão completa de sentido. O tempo passa e a gente acaba ficando um pouco exigente. A gente quer sempre mais das coisas que podemos conquistar e das pessoas que queremos amar. Existem poucas coisas que ainda enchem de sentido a vida quando se olha para frente e pouco sonho se tem. O tempo passa e traz consigo responsabilidades e deveres que condicionam nossa felicidade. E acaba que tudo fica um pouco mais difícil.

Bem sei que preencher um coração de alegria tem sido uma das raras possibilidades. Mas ao menos posso dizer que fui uma criança muito feliz, daquelas que via em tudo uma razão para rir. Hoje, rio escondido quando olho crianças brincando na praia e me lembro de que tantas vezes fiz o mesmo.

Me orgulho tanto da vida que tive e tudo que peço a Deus é que eu possa ter filhos que possam viver um pouco dessa infância que eu tive e que ao crescer eles sejam adultos completos e ao olhar para trás eles sintam a mesma falta que eu. Embora eu saiba que ser feliz na infância tem sido uma raridade nos dias complicados de hoje. E por isso, mais do que nunca, eu agradeço muito por ter passado por esses momentos, pois se não tivesse, talvez hoje, eu não seria quem sou.